A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou, em janeiro de 2020, que o surto da doença causada pelo novo coronavírus (COVID-19) constitui uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional e no dia 11 de março de 2020, a COVID-19 foi caracterizada como uma pandemia. As medidas de proteção são as mesmas utilizadas para prevenir doenças respiratórias, como: se uma pessoa tiver febre, tosse e dificuldade de respirar, deve procurar atendimento médico assim que possível e compartilhar o histórico de viagens com o profissional de saúde; lavar as mãos com água e sabão ou com desinfetantes para mãos à base de álcool; ao tossir ou espirrar, cobrir a boca e o nariz com o cotovelo flexionado ou com um lenço e higienizar as mãos. Mesmo assim tem se apresentado com um risco maior entre os profissionais da saúde.
Segundo OMS, o percentual de trabalhadores da saúde afetados pela Covid-19 varia entre 8% e 10%. As máscaras cirúrgicas normalmente são suficientes para proteção do trabalhador de saúde, exceto em situações específicas como coleta de exames, intubação, endoscopias, aspirações, trocas de tubulações de aparelhos de ventilação mecânica e outros. Nestes casos, é necessário que se utilize proteção respiratória adequada e, se necessário, barreira facial. O Brasil está no nível de transmissão comunitária, e é importante considerar que a velocidade da pandemia acelera com o tempo. Como ainda existe a possibilidade de aumento importante dos casos até a chegada ao platô e depois diminuição dos casos, precisaremos de toda a força dos profissionais de saúde e para tal faz-se necessário o conhecimento do perfil de comprometimento viral dos profissionais assintomático da saúde em trabalho pois os mesmos poderão ser a chave para a perpetuação do atendimento dos pacientes e a possibilidade de proteção para os outros profissionais .
Frente a pandemia, foi solicitado o isolamento horizontal e como uma das consequências, a suspensão do calendário acadêmico do curso de medicina EPM/UNIFESP, o que causa grande ansiedade aos alunos pois não sabem se haverá perda do semestre ou compensação dos dias perdidos. Somando-se a pandemia, sabemos que o curso de Medicina é um curso tradicional para a ossa sociedade e abrange um peso social extra dentro da classificação estrutural de classes no Brasil. O peso da carreira se inicia quando se opta pelo curso, sabendo do desgaste emocional frente à dificuldade do processo seletivo, mesmo para a opção cotista, necessitando de média de acerto muita alta, onde qualquer erro pode ser o diferencial para entrar ou não no curso. O curso imprime uma exigência em demasia dos estudantes onde o mesmo deve apresentar dedicação exclusiva, sacrifício emocional quanto ao seu tempo livre e também frente aos casos clínicos que estarão expostos ao longo da vida – binômio vida X morte.
Alunos do curso de medicina enfrentam diferentes tipos de estresse em comparação com a população em geral, com maior risco para apresentarem transtornos mentais, em particular depressão e ansiedade, Burnout, abuso de álcool e substâncias. 1 Atualmente, a prevalência de depressão entre estudantes de medicina brasileiros é estimada em 30,6%, Burnout em 13,1%, uso problemático de álcool em 32,9% e ansiedade em 32,9%, taxas que são mais elevadas do que aquelas esperadas na população geral. 2 Vários fatores estão relacionados a este aumento de risco dos estudantes para desfechos negativos ao longo do curso: estar nos estágios iniciais do curso médico, 3, 4 ser mulher, 5,6 ter (ou não) uma bolsa de estudos, 7 características dos alunos no final da adolescência, falta de tempo livre para lazer, dificuldades financeiras, estressores familiares, cargas curriculares e extracurriculares pesadas, competição por alto desempenho e qualidade da relação professor-alunos.8 Esses fatores impactam negativamente o desempenho acadêmico, a motivação para o aprendizado e a empatia. 9 O prejuízo da qualidade de vida (QV) em estudantes de medicina também foi demonstrado em meta-análise recente onde a depressão foi o principal preditor da pior QV. 5Para o êxito dentro da carreira, os alunos necessitam de perfeccionismo e auto exigência como um
traço comum, onde o erro pode ter como consequência danos irreversíveis ou a morte. Percebemos com frequência venerabilidade dos profissionais com relatos de ansiedade, depressão, violência (física e sexual), drogadição e suicídio dentro do curso. Foi demonstrado também que estudantes de medicina usam mais cannabis (50% vs 20%) e ecstasy (10% vs 5%) e menos cocaína (2% vs 5%) e anfetaminas (6% vs 8%) do que os estudantes universitários brasileiros em geral. 10,11.